À Conversa com os Artistas


Este é o momento em que o público pode conversar com os artistas sobre a sua obra. Escutar, fazer perguntas, aceder aos processos, ou a parte deles, e perceber melhor as visões do mundo de cada criador.

A Casa de Coimbra | Pedro Cabrita Reis

A Casa de Coimbra é um processo de assemblagem feito a partir de uma estrutura museográfica obsoleta, que se sobrepunha ao espaço do Refeitório de Santa Cruz. Partindo dessa matéria preexistente, Pedro Cabrita Reis, como um compositor, orientou criteriosamente e cirurgicamente as motosserras que destruíam e o carpinteiro que construía.
Ao cortar, desvelava-se a estrutura do que está por trás, a ossatura que conforma o revestimento. Reenquadram-se, (expõem-se) estratos de espaços de outros tempos: o tempo do refeitório, que em si contém muitos layers e o tempo da estrutura de madeira que foi palco de diversas exposições.
As peças resultantes dos cortes reorganizam-se num processo mutável e em expansão. O carpinteiro prega cada novo pedaço segundo a ordem precisa do artista. As partes reúnem-se criando uma nova ordem: subtraem-se, justapõem-se, adicionam-se, opõem-se e confrontam a matéria primeva.
A luz, por sua vez, sublinha, releva e clarifica este processo de sedimentação não fixo, não estável.
A Casa, que se edifica neste espaço do retiro e da solenidade, convoca-a através da domesticidade do seu nome e da espacialidade da sua conformação.
Pressente-se a Merzbau (1927-1933; destruída num bombardeamento em 1943) de Kurt Schwitters, nesta instalação que se inscreve na série das Casas, onde mais uma vez, a atenção crítica e seletiva do artista está presente no modo como se constata uma inteligibilidade singular, na resolução conceptual e formal sempre distinta de obra para obra. Pedro Cabrita Reis tem a capacidade de convocar o espanto numa obra tão matérica e concreta e simultaneamente tão abstrata.

Pedro Cabrita Reis (Lisboa, 1956) Formado em Pintura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Apresentou o seu trabalho em exposições individuais e colectivas em território nacional e internacional, tendo participado na Documenta de Kassel, na Bienal de São Paulo e na Bienal de Veneza (representação de Portugal). A sua obra inclui uma multiplicidade de meios, dos desenhos sobre papel utilizando grafite e pastel, passando pela pintura em grande escala, até às instalações de dimensões arquitecturais.

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1.000.053º Aniversário da Arte, na Sala da Cidade

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1.000.053º Aniversário da Arte, na Sala da Cidade

Captura de ecrã 2016-03-8, às 16.32.31

Captura de ecrã 2016-01-13, às 15.43.24


Programa Trimestral | Jan. Fer. Mar

Janeiro é o mês do aniversário da arte e o CAPC vai comemorar!

O projeto educativo do CAPC começa agora a definir-se e no trimestre de Janeiro a Março lançamos, ainda à boleia da bienal, alguns dados.

Em Janeiro viajamos até à primeira celebração do aniversário da arte no CAPC, em 1974, promovida por Ernesto De Sousa, a partir de uma proposta do seu amigo Robert Filliou, com a colaboração de muitos artistas.

O projeto educativo quer estender a celebração da arte aos artistas e aos professores. Aqui roubamos aos artistas, aos pensadores… roubamos o que nos alimenta, o que nos anima, que nos dá alma, o que nos fortalece! Clarice Lispector diz que “roubar torna tudo mais valioso”. Roubamos ao Rui Chafes a ideia de que os artistas transportam a chama que vem de há muito e que nascemos a partir do momento em que as coisas que amamos existem. Roubamos ao George Steiner a ideia de que os professores são como os carteiros que entregam as cartas dos grandes criadores. O ato de escolher as cartas a entregar, a quem e quando, não é neutro, pressupõe uma dimensão ideológica e uma atitude política. A receção das cartas também não é passiva. Aqui deseja-se que as cartas entregues possam ajudar a procurar outras e que sirvam de instrumento para que cada um pense por si, descubra e escreva outras cartas.

Roubamos à Hannah Arendt quando nos diz que “(…) cada nova geração, na verdade, cada novo ser humano, na medida em que se insere entre um passado infinito e um infinito futuro, deve descobrir e pavimentar de novo, com grande esforço, esse mesmo caminho.” Queremos fazer por e, sobretudo, fazer o que fazemos com. Assim celebramos, celebramos com alegria mas sem distrações, de modo a que a alegria nos fortaleça para que possamos enfrentar tantas adversidades deste nosso mundo e agir!

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