Atlas S. 1972-2012


PO  

Albano da Silva Pereira (Coimbra, 1950) tem desenvolvido um percurso pouco ortodoxo no campo da fotografia. A presença pública do seu trabalho iniciou-se em 1980, com um conjunto de imagens sobre a Ilha de Moçambique e iria desenvolver-se sempre em paralelo com a outra atividade que o tem ocupado, a direção   dos Encontros de Fotografia de Coimbra (e, posteriormente, do Centro de Artes Visuais) iniciada em 1981. Porventura este segundo campo de atividade tem obtido mais visibilidade do que o trabalho artístico, mas a criação e produção de imagens é o centro do seu mundo – de que também faz parte a obsessão recolectora de artefactos, pedras, cactos e imagens.

Para fazer uma arqueologia do seu trabalho criativo teríamos que recuar até ao início da sua atividade fotográfica, durante a Guerra Colonial, quando esteve pela primeira vez em África, a matriz a que regressa permanentemente. Em seguida é necessário compreender a ligação ao cinema, tendo sido assistente e fotógrafo de António Pedro Vasconcelos e Manoel de Oliveira – e o cinema é a sua forma de ver.

Em terceiro lugar, é necessário mencionar a ligação a Robert Frank que conheceu nos anos oitenta e que trouxe pela primeira vez a Portugal para uma exposição integrada nos Encontros   de Fotografia de 1986.

A exposição que o Círculo de Artes Plásticas apresenta em simultâneo nas instalações da Sereia e na Rua Castro Matoso é a primeira retrospectiva do trabalho de Albano Silva Pereira. Possuindo como eixo condutor a fotografia de viagem (que é um dos principais vetores da fotografia   no século XX) inicia com uma obra recente, Atlas (2011), um mapa de mapas que estabelece um percurso pessoal e simbólico, para recuar até às imagens da Ilha de Moçambique, para se centrar nas imagens do norte de África, nomeadamente da série Maison Bérbère (1996), pela primeira vez reunindo este conjunto de imagens. Na Rua Castro Matoso estarão as obras mais recentes, as suas explorações pelos desertos (Sahara, Atacama, Mojave) que são, finalmente, a imagem da sua busca sobre o paradoxo da erupção da beleza nas condições mais extremas de sobrevivência – e daí a sua ligação aos povos Dogon, fonte permanente de regresso ao Níger.

O deserto é também uma procura pela anterioridade, pelo que está antes: antes de tudo, antes da vida, a pedra, o meteorito, o chão e o céu. A sua versão da paisagem, presente nas imagens fendidas pela linha de horizonte que quase as transforma em dípticos, ou em pinturas com praedella, são o resultado dessa procura que aqui fica, senão completa e exaustivamente documentada, pelo menos assinalada: imagens de um mundo que já não existe, ou que está em extinção. Porventura a sua visão cinematográfica e a procura por uma ética da imagem sobre o mais elementar (o desejo, a dignidade, a secura, a sobrevivência), estabelecem um elo entre os diversos momentos deste percurso de 30 anos que é agora apresentado.

Círculo de Artes Plásticas,  2012

Exposição Atlas Secreto, No Círculo Sede

Exposição Atlas S. 1972-2012, No Círculo Sede

 

Atlas S001_13

Exposição Atlas S. 1972-2012, No Círculo Sede

 

Atlas S001_25

Exposição Atlas S. 1972-2012, No Círculo Sede