1.000.052º Aniversário da Arte
Intervenções e Performances
Carta-Convite
UMA FESTA PARA CELEBRAR O 1.000.011° ANIVERSÁRIO DA ARTE
Queridos Amigos
Em 1963 um amigo nosso, Robert Filliou, ao escrever um poema intitulado “Histórias Segredadas da Arte”, teve a intuição de que tudo tinha começado em 17 de Janeiro há um milhão de anos. Como a existência do Homem sobre a Terra está verificada precisamente há cerca de um milhão de anos, o arbitrário daquela data torna-se secundário, e é pacífico proclamar:HÁ UM MILHÃO E 11 ANOS, ARTE E VIDA HUMANA EXISTIAM E CONFUNDIAM-SE… POR QUE NÃO CELEBRAR ESTA DATA?
… numa FESTA, sem arte (convencional) mas que seja ela própria uma verdadeira afirmação de identidade possível e necessária entre a Arte e a Vida? Para isso NÓS vamos reunir-nos no C.A.P., em Coimbra, com a ideia maior de um convívio simples, gratificante e generoso. ESTAR JUNTOS alegremente e amigavelmente – e saber que isso mesmo se verificará em mais alguns pontos do mundo, num espírito comum. Já o ano passado, em Aix-la-Chapelle se celebrou esta festa. Foi um êxito: houve largadas de balões, música, cerveja, centenas de velas acesas e bolo de aniversário num salão do séc. XVIII cedido pelo Museu local. Este ano repetir-se-á na mesma cidade, em Berlim (onde estará Robert Filliou), em Coimbra, porventura no Canadá e noutros sítios. Enviaremos a uns e aos outros as nossas congratulações e lembranças, a pretexto da Arte e para que seja possível que ARTE e VIDA SE CONFUNDAM em vez de se divorciarem: “A ARTE DEVE VOLTAR AO POVO, AO QUAL ELA PERTENCE”.
A qualquer hora que te convenha VEM TER CONNOSCO. E SE TE FOR POSSÍVEL TRAZ QUALQUER COISA: uma ideia fecunda para um divertimento bom qualquer; um bolo ou muitos bolos; uma garrafa de belo vinho tinto (ou outro, e não te esqueças dos copos, mesmo de papel); velas para fazermos iluminações à noite (e mandarmos uma vela simbólica aos nossos amigos de longe); fitas, panos ou papel para ornamentações, etc, etc. MAS SOBRETUDO VEM TU PRÓPRIO, PARA UM GRANDE ABRAÇO; UM GRANDE APERTO DE MÃO COLECTIVO. Não vais por isto esquecer os teus problemas, e os dos outros que te preocupam, vais talvez é ficar mais confiante para os enfrentar depois. Na melhor das hipóteses. Seja como for: um dia de alegria, será pedir muito? Julgamos que não. E por isso vamos terminar com as palavras do nosso amigo, o “petit Robert”:
POR UM DIA AO MENOS; DEMOS LUGAR À ALEGRIA; AOS DIVERTIMENTOS… TAL COMO ACONTECE NO CARNAVAL, DEIXEMOS CORRER O FIO! TU E A TUA FAMÍLIA; OS TEUS AMIGOS; O TEU “PÚBLICO”, FESTEJAI SE VOS APETECER, E TANTO QUANTO VOS APETECER: PROPAGAI A NOTÍCIA, A ESPERANÇA. CONVIDAI TODAS E TODOS, E ESPECIAMENTE TODOS OS HOMENS E MULHERES QUE MANEJAM AS ALAVANCAS MAIS OBSCURAS DA GIGANTESCA INDÚSTRIA ARTÍSTICA: DOMÉSTICAS, CONDUTORES, GUARDAS, CONTÍNUOS, SECRETÁRIAS, DACTILÓGRAFAS, GRÁFICOS – E, BEM ENTENDIDO, OS “IRMÃOS E AS IRMÃS INIMIGAS” DO MUNDO ARTÍSTICO: ARTISTAS, “MARCHANDS”, COLECCIONADORES, CRÍTICOS, DIRECTORES DE MUSEU E GALERIAS… POR UM DIA, AO MENOS, RECONCILIADOS… VAMOS CELEBRAR?
Ernesto de Sousa, 1974