1 000 054.º Aniversário da Arte CAPC
1 000 054.º Aniversário da Arte
CAPC 17 janeiro 2017
A celebração no CAPC, em 17 de janeiro de 1974, do homem como artista em potência, corresponde à tomada de consciência coletiva do homem como agente potencial da transformação social do mundo, pelo que consideramos que a motivação que levou à comemoração do Aniversário da Arte é a mesma que levou à revolução de Abril e, por um instante que seja, é-nos caro admitir que aqui a vida imitou a arte.
43 anos volvidos, vamos celebrar, o 1 000 054.º Aniversário da Arte.
Círculo Sede, terça 17 janeiro pelas 21h
música | performance | tipografia | dj set
com a participação de
Carina Correia
Edna Moura
Joana Monteiro
Margarida Correia
Vanda Madureira
1 000 011.º Aniversário da Arte
CAPC 17 janeiro 1974
A partir de uma ideia de Robert Filliou, em 17 de Janeiro de 1974, Ernesto de Sousa organizou, com o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, uma festa comemorativa do 1 000 011.º Aniversário da Arte. (…)
Nessa edição inaugural do Aniversário da Arte em Portugal colaboraram, entre outros, Alberto Carneiro, Albuquerque Mendes, Alfredo Pinheiro Marques, Armando Azevedo, João Dixo, Jorge Peixinho, Ernesto de Sousa, Isabel Alves, Teresa Loff e Túlia Saldanha.
Reproduzimos a carta-convite para o evento,
assinada por Ernesto de Sousa:
UMA FESTA PARA CELEBRAR O 1 000 011.º ANIVERSÁRIO DA ARTE
Ernesto de Sousa, convite para o evento, 1974.
«Queridos Amigos
Em 1963 um amigo nosso, Robert Filliou, ao escrever um poema intitulado “Histórias Segredadas da Arte”, teve a intuição de que tudo tinha começado em 17 de Janeiro há um milhão de anos. Como a existência do Homem sobre a Terra está verificada precisamente, há cerca de um milhão de anos, o arbitrário daquela data torna-se secundário, e, é pacífico proclamar:
HÁ UM MILHÃO E 11 ANOS ARTE E VIDA HUMANA EXISTIAM-SE E CONFUNDIAM-SE… PORQUE NÃO CELEBRAR ESTA DATA?…
… numa FESTA, sem arte (convencional) mas que seja ela própria uma verdadeira afirmação de identidade possível e necessária entre a Arte e a Vida?
Para isso NÓS vamos-nos reunir no C.A.P., em Coimbra, com a ideia maior de um convívio simples, gratificante e generoso. ESTAR JUNTOS alegremente e amigavelmente – e saber que isso mesmo se verificará em mais alguns pontos do mundo, num espírito comum. Já o ano passado, em Aix-la-Chapelle se celebrou esta festa. Foi um êxito: houve largadas de balões, música, cerveja, centenas de velas acesas e bolo de aniversário num salão do séc. XVIII cedido pelo Museu local. Este ano repetir-se-á na mesma cidade, em Berlim (onde estará Robert Filliou), em Coimbra, porventura no Canadá e noutros sítios. Enviaremos a uns e aos outros as nossas congratulações e lembranças, a pretexto da Arte e para que seja possível que ARTE e VIDA SE CONFUNDAM em vez de se divorciarem: “A ARTE DEVE VOLTAR AO POVO, AO QUAL ELA PERTENCE”.
A qualquer hora que te convenha VEM TER CONNOSCO. E SE TE FOR POSSÍVEL TRAZ QUALQUER COISA: uma ideia fecunda para um divertimento bom qualquer; um bolo ou muitos bolos; uma garrafa de belo vinho tinto (ou outro, e não te esqueças dos copos, mesmo de papel); velas para fazermos iluminações à noite (e mandarmos uma vela simbólica aos nossos amigos de longe); fitas, panos ou papel para ornamentações, etc, etc. MAS SOBRETUDO VEM TU PRÓPRIO, PARA UM GRANDE ABRAÇO; UM GRANDE APERTO DE MÃO COLECTIVO. Não vais por isto esquecer os teus problemas, e os dos outros que te preocupam, vais talvez é ficar mais confiante para os enfrentar depois. Na melhor das hipóteses. Seja como for: um dia de alegria, será pedir muito? Julgamos que não. E por isso vamos terminar com as palavras do nosso amigo, o “petit Robert”:
POR UM DIA AO MENOS; DEMOS LUGAR À ALEGRIA; AOS DIVERTIMENTOS… TAL COMO ACONTECE NO CARNAVAL, DEIXEMOS CORRER O FIO! TU E A TUA FAMÍLIA; OS TEUS AMIGOS; O TEU “PÚBLICO”, FESTEJAI SE VOS APETECER, E TANTO QUANTO VOS APETECER: PROPAGAI A NOTÍCIA, A ESPERANÇA. CONVIDAI TODAS E TODOS, E ESPECIALMENTE TODOS OS HOMENS E MULHERES QUE MANEJAM AS ALAVANCAS MAIS OBSCURAS DA GIGANTESCA INDÚSTRIA ARTÍSTICA: DOMÉSTICAS, CONDUTORES, GUARDAS, CONTÍNUOS, SECRETÁRIAS, DACTILÓGRAFAS, GRÁFICOS – E, BEM ENTENDIDO, OS “IRMÃOS E AS IRMÃS INIMIGAS” DO MUNDO ARTÍSTICO: ARTISTAS, “MARCHANDS”, COLECCIONADORES, CRÍTICOS, DIRECTORES DE MUSEU e GALERIAS… POR UM DIA, AO MENOS, RECONCILIADOS…
VAMOS CELEBRAR?»
Ernesto de Sousa, 1974
in catálogo da exposição Ernesto de Sousa,
Revolution My Body,
Fundação Calouste Gulbenkian, CAM-JAP, Junho 1998,
www.ernestodesousa.com
Ernesto de Sousa, carta a Robert Filliou, 1974.
«Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, 17 de Janeiro de 1974.
Celebração do 1.000.011º Aniversário da Arte.
Evento organizado por Ernesto de Sousa com a colaboração do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, a partir de uma ideia de Robert Filliou de 1963.
Participaram Alberto Carneiro, Albuquerque Mendes, Alfredo Pinheiro Marques, Armando Azevedo, João Dixo, Jorge Peixinho, Ernesto de Sousa, Isabel Alves, Teresa Loff, Túlia Saldanha, entre outros.
a festa foi um grande sucesso as vinte salas do
C.A.P. tiveram utilizações diversas baile canções
jogos comes e bebes repouso etc etc
na sala principal desenhámos a toda a largura da
parede uma tradução do teu poema “a história sussurrada da arte”
tivemos no C.A.P. mais de mil pessoas
na sua maioria jovens houve
também um grupo de
universitários brasileiros que criou um surpreendente momento
de samba (foi preciso parar porque o tecto da sala de baixo ameaçava ruir…)
um jovem do Porto
fabricou centenas de flores de papel
onde se lia “a arte é bela tudo é belo”
na viagem de comboio
ao longo dos 200 km que separam o Porto de Coimbra
distribuiu as flores
a todos que encontrou
ao acaso na viagem
quando chegou
abriu diante da fachada do C.A.P.
lençóis
que representavam campos floridos
(…)
é evidente que uma festa como a nossa não poderia
acontecer sem contradição
sobretudo no meu país que é muito politizado
tivemos sobretudo contestações de
jovens maoístas e outros esquerdistas
contestações que evidentemente
muito apreciámos
por vezes a resposta foi o diálogo
noutros casos verificou-se uma resposta em coro
(…)
e o humor e gentileza
levaram sempre a melhor.»
Ernesto de Sousa, carta a Robert Filliou, 1974.