A doce e ácida incisão | A Gravura em contexto (1956-2004)
A Gravura em contexto (1956-2004)
Fundada em 1956, a Gravura correspondeu à ambição de democratização das práticas artísticas através da difusão de obras gravadas, simbolicamente a simbiose entre a artesania da prática artística e a produção de múltiplos que transportassem a arte para públicos mais amplos. Inicialmente muito ligada ao movimento neorrealista, a Gravura cruzou o seu caminho com a Seara Nova, mas também com os experimentalismos da década de 1970, mantendo uma intensa atividade de produção, formação e exposição.
A exposição apresenta um conjunto de 60 gravuras que incluem obras dos mais relevantes artistas portugueses da segunda metade do século XX, fazendo assim um percurso pelas várias tipologias, estratégias e metamorfoses do uso da gravura e pela história da arte contemporânea nacional.
“Durante o processo de conceção e organização da exposição tornou-se evidente que a Gravura tinha sido, ao longo dos quase cinquenta anos da sua atividade, um espelho e um motor dos desenvolvimentos da arte em Portugal, um reflexo dos anseios de sucessivas gerações de artistas que aí concretizaram aspirações ideológicas e políticas, mas também formas que se pretendiam inovadoras de relação entre a arte e imagem, entre manufatura e processos mecânicos de reprodução entre preocupações estéticas e a construção das suas condições de receção.
Numa perspetiva mais ampla, a Gravura foi também um ensaio de renovação dos processos de colecionismo num país onde o exíguo mercado de arte parecia despontar para uma democratização que antecedeu por vinte anos a abertura política e que, durante a década de 1970, aqui encontrou um pequeno reduto de continuidade, quando as circunstâncias políticas e económicas do país impunham outras prioridades, mais urgentes.”
David Santos e Delfim Sardo