A História do Homem


Cartaz editado por processo tipográfico, em 1994, empregando tipos móveis de chumbo. As diferentes famílias de letras utilizadas na composição criam uma mancha de texto irregular. A diagramação foi feita em colunas impressas em oito folhas de papel tamanho A1. A história trata de um homem à procura de um lugar insólito no meio do mar. Temos algumas vagas referências geográficas a respeito da sua localização, mas a descrição desse lugar revela uma impossibilidade de existência física real. O tom é de um relato pessoal retirado de um diário de viagem. A narrativa evolui lenta e discretamente para o absurdo ou disparate. Somos surpreendidos por uma mudança súbita de ponto de vista, uma sobreposição de dimensões. Não sabemos mais se as alusões se referem a factos ou a sonhos. O cartaz foi distribuído em mais de quatrocentos lugares pelas principais vias públicas da cidade de São Paulo. Colado aos muros, apresentava apenas uma história. Talvez por esse motivo provocasse uma certa estranheza, ao dividir o espaço com informações habituais desse meio. A casualidade do quotidiano criou situações particulares nos vários locais onde foi colado, ora no confronto com propaganda publicitária, ora confundido como parte de um espetáculo musical.

Tendo em vista que tradicionalmente a página do livro é por excelência o espaço da literatura, a história impressa em oito folhas tamanho A1 apresenta-se deslocada desse ambiente. O cartaz transporta o texto para outro espaço, a composição afasta-se da literatura e aproxima-se da escultura. A solução gráfica adotada procura conciliar o texto com a escultura, a semântica com a fisicalidade das palavras. A História do Homem parece migrar do livro para as ruas da cidade.

Nos muros, a leitura deixa de ser um ato individual; as pessoas são atraídas umas pela presença das outras. Torna-se num ato coletivo que estimula a discussão e a troca de impressões. Nessa situação, a palavra escrita tende a voltar a fruir através do meio oral. A integração com o espaço urbano volta a envolver o texto com a informalidade das conversas quotidianas, com o encontro fortuito. O leitor passa a fazer parte do trabalho.

© Jorge das Neves

José Paiani Spaniol
Artista plástico e professor do Instituto de Artes da UNESP em São Paulo. De 1990 a 1993, estudou na Academia de Artes de Düsseldorf na Alemanha, como bolsista do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico; é doutor em artes pela ECA-USP. No início da carreira, o artista utiliza objetos cotidianos, e estabelece uma troca entre a função utilitária e a poética. Desde os anos 1990, explora a relação entre suas obras com arquitetura e espaços expositivos.

Localização Museu:
Praça das Cortes de Coimbra,
Santa Clara, 3040-250 Coimbra.