Casa, Posse, Lar
CASA – POSSE – LAR
CASA – POSSE – LAR é a nossa resposta ao desafio lançado pela Câmara Municipal de Miranda do Corvo para a exposição de inauguração da Casa Das Artes. Na nossa condição de arquitectos-fazedores de casas, habitantes deste concelho e, simultaneamente, directores do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, o que vos propomos é uma exposição que cruza obras da nossa colecção privada com obras da colecção do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra. É um conjunto de cinco obras que tem em comum a preocupação de reflectir sobre as três palavras que dão o título a esta exposição CASA – POSSE – LAR. Uma casa só se transforma verdadeiramente em lar quando dela tomamos posse, quando nos passa a pertencer no plano físico e emocional, quando amplifica o espaço da nossa intimidade.
Pavilhão de Jardim é a proposta do Atelier do Corvo que sublinha a possibilidade de encontrarmos um lugar de intimidade dilatada na clausura de um jardim.
Os dois manequins, S/Título de Ana Rito recorda-nos a condição feminina do lar na presença enigmática de dois corpos de mulheres sem rosto reconhecível.
NON DOMINIS, de Pedro Valdez Cardoso reflecte sobre a vandalização de património comum, quando o julgamos não nos pertencer e procuramos apropriar-nos dele de forma abusiva.
Lar de Pedro Medeiros é um trabalho sobre a existência mínima dos sem abrigo – ou sem-lar numa tradução directa do inglês – aqui reduzida a um carro de compras de supermercado, onde poderemos ler uma feroz crítica à sociedade de consumo e ao capitalismo neo-liberal sem regras.
Por fim, o sofá, S/Título, de Pedro Campos Rosado remete-nos, neste contexto, para o capacidade de apropriação individual da casa pelo utilizador que o mobiliário ou o equipamento representam, tão ou mais significativos que a arquitectura que a define.
Que casa é esta que aqui hoje se inaugura?
Um edifício forte do ponto de vista arquitectónico, que reforça o seu carácter de equipamento de excepção, que soube resistir ao gosto fácil do falsamente regionalista, que marca um território, clarificando o limite entre o urbano e o rural.
Esta casa será tanto maior quanto mais inclusiva, quanto mais a sentirmos como propriedade comum, como porta para o conhecimento que só a arte possibilita. Não deverá haver por isto nenhuma ilusão, o acesso aos bens culturais exige do receptor um esforço de progressiva curiosidade, de disponibilidade para aprender.
Carlos Antunes e Désirée Pedro
Miranda do Corvo, Agosto de 2013