Eles falam em arco-íris


A canção She Talks to Rainbows dos Ramones — que narra a história de uma mulher que conversa com o mundo natural, mas não com o cantor — pode ser interpretada como uma alegoria para a nossa atual relação com a natureza. Numa época marcada por desafios ambientais e a necessidade premente de consciência ecológica, falar com a natureza, com entidades além do reino humano, torna-se não só relevante como imperativo. É um convite a refletir, fazer e pensar com a natureza, em vez de apenas pensar, escrever e criar sobre ela.

Esta exposição reúne os trabalhos de três artistas, Gabriela Albergaria, Margarida Lagarto e Marcelo Moscheta, cada um dos quais emprega metodologias distintas para se relacionar com a natureza de uma forma que se alinha com esta abordagem transformadora. Partilham de um profundo compromisso com a reparação, com o sarar das falhas na nossa relação com o ambiente e o restabelecer o seu frágil equilíbrio. Através de interpretações poéticas ou de interações diretas, estes artistas estabelecem uma conversa profunda com o mundo natural, abordando as nuvens, as sombras e as árvores que muitas vezes passam despercebidas.

O arco-íris, um fenómeno fugaz e científico, continua a cativar a nossa imaginação com o seu fascínio mágico. Contemplar um arco-íris é estar num estado de atenção perpétuo — uma observação e um encantamento contínuos. Requer um olhar finamente sintonizado com o efémero, capaz de identificar, documentar e saborear a beleza transitória da natureza. Esta atitude de procurar e preservar os momentos fugazes do mundo natural une o trabalho destes três artistas.

Para cada um deles, encontrar os seus próprios arco-íris representa uma viagem de reparação profundamente pessoal. É um ato de diálogo com o efémero, de reconhecimento e captura de momentos que, de outra forma, se poderiam perder na passagem do tempo. Este esforço não é apenas uma busca estética, mas também uma posição crítica, um grito, um método de contar histórias ou um reflexo de puro espanto. Cada uma das suas abordagens realça de diferentes formas a profunda ligação entre os seres humanos e o ambiente, enfatizando a nossa capacidade de apreciar e de nos envolvermos com o que a natureza oferece, e, ao fazê-lo, de contribuir para a restabelecer a nossa relação danificada com o planeta.

Esta exposição transcende as fronteiras artísticas tradicionais para oferecer uma exploração pungente da nossa ligação com a natureza e a necessidade urgente de a restaurar e corrigir. Serve para nos lembrar da responsabilidade de mudar a nossa perspetiva e de nos envolvermos com o mundo natural de forma mais profunda e atenta. As obras apresentadas encorajam-nos a encontrar os nossos próprios arco-íris, a conversar com os momentos fugazes da natureza e a preservar, celebrar e proteger o nosso extraordinário planeta para as gerações futuras. Ao fazê-lo, inspiram-nos a ser participantes ativos na reparação contínua do nosso frágil ecossistema, forjando um novo caminho para uma coexistência harmoniosa com o ambiente e, em última análise, contribuindo para a renovação dos laços entre a humanidade e o mundo natural.




Marcelo Moscheta
https://marcelomoscheta.com

Marcelo Moscheta nasceu em São José do Rio Preto, Brasil, em 1976. Vive e trabalha em Coimbra, onde desenvolve sua investigação de doutoramento em Arte Contemporânea.

Moscheta recebeu vários prémios e bolsas de pesquisa, incluindo The Pollock-Krasner Foundation Grant (2017), The Drawing Center Open Sessions Program (2015), Bolsa Estímulo FUNARTE (2014), Prémio de Fotografia Marc Ferrez (2012) e o I Prêmio Pipa (2010). Em 2013, participou na publicação Vitamin D2, uma antologia do desenho contemporâneo, editada pela Phaidon.

De entre as suas exposições, destacam-se: Past/Future/Present: Contemporary Brazilian Art From The MAM São Paulo, Phoenix Art Museum (2017); Open Sessions: Drawing in Context/Field, Queens Museum, Nova Iorque (2015), Rocks, Stones and Dust, University of Toronto Art Centre (2015) e Nature Arte ed Ecologia, MART, Trento (2015). De entre as individuais, estão: Rejeito, Fama Museu, Itu (2020), A História Natural e Outras Ruínas, Galeria Vermelho, São Paulo (2018), Norte, Paço Imperial, Rio de Janeiro (2012) e Contra.Céu, Capela do Morumbi, São Paulo (2010).

O seu trabalho encontra-se representado em várias coleções privadas e institucionais.


Margarida Lagarto

Margarida Lagarto nasceu em Veiros, em 1954. Concluiu o Curso de Pintura da Escola António Arroio e frequentou a Curso de Pintura da  Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, entre 1979 e 1981. O desenho, em particular a carvão e aguarela sobre papel, tem sido o objeto essencial dos últimos anos de trabalho, centrado na observação da natureza como ecrã primordial de uma fragilidade global.

Expõe desde 1976 e o seu trabalho está representado em várias coleções privadas e institucionais, tais como, Colecção PLMJ, Coleção BPI e Coleção FLAD.


Gabriela Albergaria
gabrielaalbergaria.com

Gabriela Albergaria nasceu em Vale de Cambra, Portugal, em 1965. Vive e trabalha em Bruxelas e Lisboa. Em 1990, concluiu a licenciatura em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian entre 1991 e 1993. Expõe regularmente desde 1999.

Participou em vários programas de residências artísticas, como Künstlerhaus Bethanien, Berlim (2000–2001); Cité Internationale des Arts, Paris (2004); Villa Arson, Nice (2008); Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador da Bahia (2008); The University of Oxford Botanic Garden/The Ruskin School of Drawing and Fine Art, Oxford (2009–2010); Winter Workspace, Wave Hill, Nova Iorque (2012), Residency Unlimited, Nova Iorque (2015) e Flora ars+natura, Bogotá (2015), de entre outros.

Foi nomeada para os prémios Ars Viva 2002/2003 – Landschaft e Prix Pictet 2008, The Global Award in Photography and Sustainability.

Expõe desde 1976 e o seu trabalho está representado em várias coleções privadas e institucionais.