Ensaio para Anozero


Ensaio para Anozero, é já a certeza do início desse projecto para a cidade, que antes de tudo o mais pretende reunir para o mesmo fim diferentes actores da cidade. Instalada a partir de três peças de uma notável colecção privada de arte contemporânea de Coimbra, de António Albertino, as três peças seleccionadas dialogam tensamente com as figuras dos clérigos que ocupam a envolvente da sala.

O Anozero: Encontros de Arte Contemporânea de Coimbra é uma bienal de Arte Contemporânea a decorrer em Coimbra no último trimestre de 2015, organizada pelo Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, a Câmara Municipal de Coimbra e a Universidade de Coimbra.

Sendo já reconhecida enquanto ação estratégica para a solidificação cultural de Coimbra e do país, esta bienal pretende contribuir para a legitimação da inscrição da Alta e Rua da Sofia em Coimbra na lista de bens de Património da Humanidade da UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization), através de um conjunto articulado de exposições de arte contemporânea com alguns dos mais relevante artistas nacionais e internacionais, instaladas nos edifícios classificados e outros de significativa dimensão patrimonial da cidade e da Região Centro. O sucesso da inscrição do bem só será assegura do se a cidade se souber reunir colectivamente em torno deste objectivo comum.

Ensaio para Anozero, é já a certeza do início desse projecto para a cidade, ao reunir no mesmo evento o empenho de quatro diferentes actores da cidade, Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, a Câmara Municipal de Coimbra, a Universidade de Coimbra e um coleccionador privado de arte contemporânea que põe a dispobibilidade da cidade e do anozero a sua colecção. A partir de três peças da colecção de António Albertino, as três obras seleccionadas dialogam tensamente com as figuras dos bispos reitores cujos austeros retratos ocupam a envolvente da sala do exame privado.

A Sala do Exame Privado, cuja atual disposição data da renovação realizada em 1701, era o local onde os licenciados realizavam as suas provas a Doutores. Esta consistia num exame oral privado, feita à porta fechada e à noite. A sua exigência era tal que a sua memória se manteve após o seu fim, com a Reforma Pombalina, na década de 70 do séc. XVIII.

A Sala do Exame Privado fazia parte integrante da ala real do palácio. Foi câmara real, ou seja, o local onde o monarca pernoitava. Também foi nesta sala que se realizou a primeira “reunião” entre o Reitor D. Garcia de Almeida e os lentes (professores) da Universidade, no dia 13 de Outubro de 1537, data da transferência definitiva desta instituição para Coimbra.As três peças seleccionadas procuram inscrever no espaço a presença de corpos físicos a partir da obra de dois artistas nucleares da arte portuguesa, Rui Sanches e Helena Almeida e um artista charneira da arte Povera internacional, Michelangelo Pistoletto.

A escultura “Dafne II” de Rui Sanches que modela a presença de um corpo de expressiva sensualidade, “desenho”, uma foto de Helena Almeida, uma artista que ao longo de uma extensa obra procura a possibilidade da autorepresenção a negro do corpo feminino na tela branca, e “Il tavolo” de Michelangelo Pistoletto, uma mesa serrada com tampo de espelho, tombada de forma perpendicular entre as partes, permitindo uma inusitada representação do espaço envolvente e a tomada de consciência da presença especular do eu em diálogo com o espaço e neste particular com as personagens reitorais presentes na sala.

Carlos Antunes, Janeiro de 2015

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Ensaio para Anozero, na Sala de Exame Privado – UC

 

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Ensaio para Anozero, na Sala de Exame Privado – UC

 

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Ensaio para Anozero, na Sala de Exame Privado – UC