O Lugar do Espectador
Informamos que a exposição estará encerrada de 1 de agosto a 4 de setembro.
O Lugar do Espectador, enquanto projecto expositivo, propõem-se como um encontro de dois percursos, a partir da obra de cada uma das artistas e da experiência da paisagem desenhada pelo jardim que acolhe o espaço construído. A arquitectura, que dá corpo às salas de exposição, e o Jardim da Sereia são como contentores/ecrãs de espaços ficcionais que se prolongam numa relação orgânica e concomitante. O repto lançado a Ana Pérez-Quiroga e HElena Valsecchi tem como ponto de partida um texto de Italo Calvino, «Autobiografia de um Espectador», que faz parte do livro O Caminho de San Giovanni. Nesse repto, o sentido em que o autor se reconhece como espectador de cinema, durante um período da segunda metade do século XX da história Italiana, interroga a sua paixão pela narrativa dos ecrãs, e descreve com detalhe as diversas histórias e estórias desta forma de expressão numa estreita relação com o quotidiano que lhe é coevo.
Tomando como ponto de partida este cruzamento entre a arte e a vida, essa ideia de construção cinematográfica, de montagem e edição, reconfigura o lugar do espectador para um campo de possibilidades que se propõe, através da experiência artística, reequacionar a nossa própria experiência, ainda que por momentos, nas salas da exposição. Ao partilhar o sentimento de perda, ou de paixão, como a fragilidade de um percurso, e de uma memória do corpo e do espírito, surge uma interrogação nas diversas modalidades que estes podem assumir. Seja nas seduções do desejo, ou numa outra forma de respirar, transparente como um alvéolo, ou nas amplas janelas que partilham e fazem ressoar o jardim nas salas que se transformam em ecrãs, como num prado de um piquenique sob um céu pintado que nos envolve, como os desenhos de
caminhos e palavras luminosas que devolvem a paisagem em aparente suspensão. O lugar do espectador é o espaço da reconfiguração da memória, do olhar e de uma corporalidade indeterminada que regressa nas obras da exposição.
João Silvério
O autor não segue o Acordo Ortográfico em vigor.
Ana Pérez-Quiroga
Artista visual, realizadora e investigadora. É doutorada em Arte Contemporânea pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra; mestre em Artes Visuais–Intermédia da Universidade de Évora; licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa; e com Curso Avançado e Projecto Individual de Artes Plásticas, pelo Ar.Co. É investigadora no CHAIA – Centro de História de Arte e Investigação Artística da Universidade de Évora, onde se encontra a fazer um pós-doutoramento com apoio da FCT. As suas temáticas centram-se no quotidiano e seu mapeamento, na importância dos objetos comuns na construção da autorrepresentação, na identidade, nas problemáticas de género, na memória, na pós-memória e na cor. São materializadas em diversos suportes: instalação, objetos, fotografia, filme, têxteis e performance. Foi distinguida com os prémios: Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) — Melhor Exposição de Artes Plásticas de 2014; Fundação Millennium BCP — Projecto Artístico 2022. Tem apoio do ICA para a realização de uma longa metragem/documentário.
HElena Valsecchi
Artista italiana e portuguesa, nascida em Novara, Itália, em 1976. Atualmente, vive e trabalha em Lisboa e Peniche, Portugal. Frequentou o curso de Pintura e Desenho na Ar.Co. em 2018, e o programa de Residências Artísticas na MArt, em Lisboa, com bolsa da Fundação Carmona e Costa, MArt, Sá da Costa, em 2019–2020. Foi residente convidada na RAMA Residências Artísticas de Maceira e Alfeiria, integrando também a equipa do projeto. Frequenta o Mestrado em Artes Plásticas na ESAD, Caldas da Rainha. De entre as exposições mais recentes, destacam-se a individual Synecdoche, com texto de João Silvério, na Galeria Sá da Costa, e a coletiva Uma Certa Prática da Atenção, na Galeria Municipal de Torres Vedras, com curadoria de Ana Anacleto, em 2022. A sua prática nasce de uma reflexão acerca da origem e essência da necessidade do sentimento do sagrado, como resposta à fragilidade da vida do indivíduo, necessidade que se traduz num desejo, nunca realizado, de fusão entre um e todo, corpo humano e corpo não humano, vida individual e vida universal.
João Silvério
Mestre em Estudos Curatoriais pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. É curador associado da coleção de arte contemporânea da Fundação PLMJ. Iniciou a sua atividade como curador independente em 2003, e em outubro de 2007 criou o projeto independente EMPTY CUBE, que tem apresentado projetos de artistas, designers e arquitetos (www.emptycube.org). Foi Presidente da Secção Portuguesa da AICA – Associação Internacional de Críticos de Arte de março de 2013 até dezembro de 2015. Em 2021, participou no projeto da RAMA Residências Artísticas, em Maceira, Portugal. Criou, em 2022, a editora independente co_edition em associação com a MeelPress. Escreve regularmente acerca de projetos artísticos, em catálogos, publicações e websites.