O Meu Corpo É o Teu Corpo
Tendo como premissa a frase «O Meu Corpo É o Teu Corpo», releitura de Rui Órfão a partir da obra de Ernesto de Sousa, o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra lançou um desafio à comunidade artística, a partir do qual selecionou seis projetos artísticos inéditos que coexistirão no CAPC Sede entre outubro e dezembro de 2023.
O Meu Corpo É o Teu Corpo trata-se de uma inversão da designação criada por Ernesto de Sousa para agrupar uma série de ações, performances e exposições: «O Teu Corpo É o Meu Corpo». Este período da obra do artista inclui produção gráfica, fotográfica e fílmica, textos poéticos e obras mixed-media realizadas entre 1972 e 1988.
Ernesto de Sousa (Lisboa, 18 abril 1921–6 outubro 1988) foi uma das figuras mais complexas e ativas do seu tempo, um prolífico artista multidisciplinar e um ávido promotor de sinergias entre gerações de artistas da primeira e da segunda metade do século XX. Defensor de uma expressão artística experimental e livre, dedicou-se ao estudo, divulgação e prática das artes, bem como à curadoria, crítica e ensaística, à fotografia, ao cinema e ao teatro.
Ao propor a celebração do Aniversário da Arte de Robert Filliou (Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, 1974), Ernesto de Sousa antecipou a Revolução dos Cravos e contrariou a posição periférica de Portugal na Europa. A exposição Alternativa Zero (Galeria Nacional de Arte Moderna, Lisboa, 1977) sintetiza o seu projeto de criação de uma vanguarda portuguesa em diálogo estético e ideológico com as suas congéneres internacionais.
Os trabalhos apresentados respondem a este repto de diferentes modos. Em todos eles, o corpo é relevado como medium da relação artista-espectador.
A exposição inaugurará às 16h00 do dia 14 de outubro e estará patente até ao dia 30 de dezembro. Contará com obras de Ana João Romana e Isabel Baraona, Anabela Veloso, Feilin, Inês Teles, Maria Fradinho e Rafaela Salgueiro.
Ana João Romana e Isabel Baraona
Ana João Romana e Isabel Baraona são professoras na ESAD.CR, investigadoras no LiDA – Laboratório de Investigação em Design e Artes, e o seu interesse reside em publicações enquanto prática artística. As suas obras encontram-se em acervo nas bibliotecas da Fundação de Serralves, Fundação Calouste Gulbenkian, Cabinet du Livre d’Artiste (Rennes).
Ana João Romana expõe regularmente desde 1996 em Portugal, e também no Reino Unido, Finlândia, Irlanda, Espanha, Itália, Japão, China, Brasil, Estados Unidos da América e Dubai. Foi bolseira do Serviço de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, ArtWorks Wales, Fundação Pollock-Krasner e Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Isabel Baraona tem participado em diversas exposições individuais e coletivas, em Portugal e no estrangeiro. Está representada nas coleções Fundação EDP, Fundação D. Luís I, Fernando F. Ribeiro, Safira e Luís Serpa, Catarina F. Cardoso, Centro Português de Serigrafia, e em coleções internacionais como Yolande De Bontridder, Galila Barzilaï-Hollander, de entre outras.
Anabela Veloso
Anabela Veloso é uma artista portuguesa com uma prática multidisciplinar que utiliza uma variedade de meios, como instalação, escultura, fotografia, performance e ações participativas. Formada pela Royal Danish Academy of Fine Arts e pela Faculdade de Belas Artes do Porto, desenvolve uma abordagem artística que reflete o seu recorrente sentimento de impotência perante questões sociais e políticas.
O seu trabalho especula noções do coletivo, apontando tanto para lacunas e fendas de sistemas organizacionais, como para a empatia e o amor partilhados dentro de um grupo em que se é próximo. Desconstruindo ou possibilitando relações, a sua prática sugere o coletivo como um espaço para especular, revelar, dialogar e ouvir em conjunto.
A sua carreira artística é marcada por exposições realizadas em Portugal, Dinamarca, Suécia e Áustria, destacando-se o Kunsthal Charlottenborg (Copenhaga), o Thorvaldsens Museum (Copenhaga), o Tanzquartier Wien (Viena) e o Museu de Serralves (Porto).
Feilin
Feilin investiga a singularidade da vida e do ser através da pintura, instalação, fotografia, dança, música, gravura e das múltiplas línguas que conhece e aprende. Aborda a criação como processo de exploração dos sentidos e da memória, em que os materiais são participantes ativos e em que outros processos, como a aprendizagem — em particular, a das línguas —, são em si materiais de criação artística.
Em 2017, concluiu os seus estudos em Pintura e Química, na Escola de Belas Artes Tyler (Filadélfia). No mesmo ano, foi residente no espaço-estúdio de DongDong & Lulu, onde desenvolveu um projeto de investigação sobre a história das árvores de Nanjing. Em 2018, foi artista em residência em Xangai, onde experimentou a arte coletiva e comunitária. Participou em encontros de arte de ação com Sowerart, tornando-se parte do coletivo em 2020. Em 2021, participou na residência Watertower com uma performance multilingue. Em 2023, participou como bailarina no Laboratório 12 da coreógrafa Marta Cerqueira, organizado pela ESTUFA, onde aprendeu ideias sobre movimento em grupo e o encaixe.
Inês Teles
Inês Teles vive e trabalha em Lisboa. Expõe o seu trabalho em contexto nacional e internacional. É pós-graduada pela Byam Shaw School of Art e Master of Arts pela Slade School of Fine Art. Atualmente, é bolseira da FCT, no programa de doutoramento em Escultura da FBAUL e colaboradora do Centro de Investigação Vicarte.
Seleção de exposições: Sensores, partículas e outros compostos, Salão de Chá, Águeda (2023); A persistência da matéria: 20 anos VICARTE, Núcleo de Arte Contemporânea do Museu do Vidro, Marinha Grande (2022); Aliquid stat pro aliquo, curadoria de Maria Joana Vilela, Studio PRÁM, Praga (2021); TIERRA A LA VISTA. Un paisaje de formas encontradas, curadoria de David Barro, galeria PONCE+ROBLES, Madrid (2021); Variations portugaises, Centre d’Art de Meymac, curadoria de Caroline Bissière e Jean-Paul Blanchet, França (2018); Múltiplos, The Drawing Center, Nova Iorque (2016); Descontorno, Casa de Burgos, curadoria de João Pinharanda, Évora (2015).
Maria Fradinho
Frequenta o Mestrado em Artes Plásticas na ESAD.CR. Atuou como assistente de produção cultural e restauradora de livros no mesmo estabelecimento de ensino. Participou na exposição coletiva Mãos nas mãos: o futuro, na Galeria Câmara Escura em Torres Vedras; Vir a lume, na ESAD:CR; e Decompor e Coser, no Museu de Leiria. Atualmente, é bolseira na residência artística Rama Studio, no projeto «Território – comunidade – sustentabilidade». Fez também residência no projeto «Quarry Sonnets», nas pedreiras desativadas da Serra de Aire e Candeeiro, na associação YAW, em Calascio (Itália), onde participou na exposição Arte, Scienza e spiritualità, e no Mosteiro da Batalha. Publicou o ensaio «O desenho habita o caderno como eu habito o lugar» no fascículo n.º 4 do jornal If it walks like a duck and it talks like a duck it’s a duck. Já viajou por 30 cidades europeias, com o intuito de potenciar a prática artística, em descoberta dos limites do Ser.
Rafaela Salgueiro
Rafaela Salgueiro é artista visual multidisciplinar, designer criativa e autora do projeto I Dress Bodies As If They Were Ideas. Trabalha entre os universos da arte e da moda com o objetivo de unificar estas duas potências criativas. Como consequência das suas investigações, a artista apresenta novas possibilidades linguísticas entre o corpo e a matéria para abordar temas acerca do afeto e sensibilidade numa introdução de contacto com outras realidades materiais.
É formada em Design de Moda pelo Senac/São Paulo, e realizou mestrado em Artes Plásticas pelo círculo de Bellas Artes de Madrid a partir do desenvolvimento de pesquisa relacionada ao inconsciente, ao afeto e à potencial transformação dos materiais.
Últimos trabalhos: desenvolvimento cenográfico e performance choreographic atlases,com Barbara Cordeiro e Katinka Wissing, Grønbechs Gård: Bornholm’s Centre for Crafts, Dinamarca (2023); a obra grão de areia plástico bolha, com Duda Affonso, NowHere, Lisboa, (2022); desenvolvimento de objeto interativo para a performance calor, da artista Josefa Pereira, Teatro do Bairro Alto, Lisboa (2022).