O Rio Voador


O Rio Voador

Não há rios que não sejam voadores, como aliás quaisquer conceitos. Mas, aqui, a evocação do rio faz-nos lembrar que ele divide a cidade em duas, com ele a cidade passa a ser duas, um lugar que é pelo menos dois. Por outro lado, provocando um intervalo na cidade, o rio pode ser encarado como uma espécie de suspensão da realidade. E, como todos sabemos, corre para outros lados…

Nesta capacidade de abstracção que a experiência de um rio potencia, esbatendo os contornos de um lugar físico ou mental, um rio é sobretudo uma experiência estética.

Para esta exposição os artistas foram convidados a participar com obras que partissem da ideia de “rio voador”. Ou, melhor, foram colocados perante o facto de a exposição se chamar “O Rio Voador”, apresentando obras que habitassem este contexto.

Assim, as peças aqui expostas, sendo explícita ou não a ideia de rio, usando a imagem do rio nas potencialidades metafóricas de um rio, situam-se sobretudo num universo que a possibilidade de um rio voador abre.

António Olaio, Março de 2012

Inês Botelho e Francisco Queirós_O Rio Voador_Fotos

Exposição Rio Voador, no Círculo Sede

 

Pedro Tudela e Rodrigo Oliveira_O Rio Voador_Fotos

Exposição Rio Voador, no Círculo Sede

 

Rodrigo Oliveira e Gonçalo Pena_O Rio Voador_Fotos

Exposição Rio Voador, no Círculo Sede

 

 

Paralelamente a esta, no Museu da Água, podemos ver uma exposição construída pelos alunos de Arquitectura e Design e Multimédia da Universidade de Coimbra, explorando outras potencialidades, nas expectativas transformadoras das especificidades disciplinares do design e da arquitectura.

E, ao mesmo tempo, sendo alunos, nas potencialidades de diluição disciplinar que essa condição permite.

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O Rio Voador

O Rio Voador é um projecto que resulta em duas exposições. A segunda, exposição de artistas plásticos, acontecerá na Sede do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra. A primeira encontra neste Museu da Água lugar e contexto conceptual.

Neste museu, na própria proximidade do rio Mondego, as peças desta exposição podem surgir com sendo seu eco e deriva.

Os trabalhos realizados pelos alunos de Arquitectura e de Design e Multimédia da Universidade de Coimbra encontram diferentes formas de responder a este repto.

Os alunos de Desenho II, do curso de arquitectura (trabalhos coordenados pelos professores António Olaio e Pedro Pousada), criaram uma peça suspensa estendendo-se longitudinalmente na sala de exposições do Museu da Água, azul, linear, como abstracção ou síntese da ideia de rio, feita da junção de peças criadas individualmente por cada aluno. Este “rio voador”, assim autonomizado, nasce da ideia de um rio que concentra em si as próprias margens, síntese da ideia de que um rio inclui as suas margens. E, na contaminação da ideia de arquitectura, este rio é um rio construído. Solidez tornada líquida, fluida, nestas formas que se estendem como um rio.

E, nas paredes da sala de exposição, os trabalhos dos alunos dos cursos de Design e Multimédia: Os alunos de Desenho e Representação (trabalhos coordenados pela professora Alice Geirinhas), em papel recortado, fazem eco do curso linear deste rio imaginado, em silhuetas que se espelham como margens que se reflectem, mas o reflexo é outra coisa, num rio que cria a sua própria realidade. Os alunos de Estudos de Composição (trabalhos coordenados pelo professor António Olaio), em imagens projectadas, mostram-nos a abstracção do fluir de letras que, em vez de produzir texto, significado, produzem o sentido de um fluxo de formas. Evocando o sentido de um discurso, mas sendo sobretudo exploração plástica de uma condição pré-discursiva, da plasticidade pura do pensamento.

De facto, em qualquer produção plástica, a essência é sempre o pensamento. E, aqui, o pensamento encontra na ideia de rio uma tradução simbólica eloquente.

No rio onde nos podemos espelhar para nos vermos, reconhecermos, mas em imagens cujos contornos se tornam mutáveis, dinâmicos, por força da superfície de um espelho em permanente movimento.