Memoriae / Objetos

Memoriae
Esta apresentação coloca em jogo a experiência pessoal e o conhecimento histórico coletivo. Uma exposição que utiliza dois objetos significativos dos meus antepassados, uma esfera em calcário (elemento ornamental/arquitetónico da casa dos meus avós) e um brinquedo antigo (tartaruga em plástico da década de 1960).
O caráter metonímico dos objetos e das imagens do passado manifesta-se, frequentemente, aquando a instalação dos mesmos no campo da arte. Sendo esta reutilização uma particular repetição que utiliza os originais, e desse modo, enfatiza no presente esses objetos e essas imagens do passado. Um processo que considera a componente presencial do objeto como forma de convocação do espectador e circunscrição da abordagem conteudal.
Um discurso sobre o que é e como se manifesta a memória será um discurso que associa tempos diferentes e compreende as operações que constituem a mnemonização. Dessa mesma preleção poderemos extrapolar que, individualmente, a memória é um museu em cada um de nós, assim como nós somos o nosso passado e a forma como repetimos os assuntos do mesmo utilizando a diferença. Uma repetição que será uma imanência muito própria que combina a experiência histórica e a afetividade, e em que a experiência individual é o elemento mínimo constituinte da memória coletiva. Um elemento mínimo que possui um carácter presencial, mas que se manifesta em silêncio,
Mário Mendes

Objetos
Os objetos aqui apresentados pertencem a uma esfera privada, originalmente dispostos em frente a livros numa estante que vai sendo povoada de objetos, num gesto contínuo e desprovido de qualquer sentido, além de uma ocupação do espaço encontrado livre. Se, por um lado, alguns dos objetos foram lá colocados intencionalmente, outros apareceram lá deixados pelo acaso de uma ou de várias pessoas que conviveram naquele espaço. Não tendo qualquer função além de ocupar um espaço e uma memória, estes objetos têm dois tipos de grandeza: objetos recolhidos do mundo, desprezando toda a sua parte inteligível; e objetos dados ao mundo. Não querendo aniquilar a memória contingente dos objetos, esta é desprezada, ficando só a memória da seleção de alguns dos objetos ou aceitando o acaso do aparecimento de outros.
A passagem destes objetos da esfera privada para esta esfera pública não lhes pretende acrescentar nada, sendo somente um desdobramento de um gesto inato e replicável.
Este gesto encontra-se em qualquer um de nós à espera de ser partilhado.
Pedro Carvalho de Ferro