Aguarela
Projecto Aguarela – Plano de Iniciativas para o Combate à Discriminação pela Orientação Sexual e Identidade de Género
Saúde em Português é uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento com sede internacional em Coimbra. Fundada em 1993, já abrangeu mais de 600.000 beneficiários/as na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e em territórios de conflito, guerra e catástrofe.
Entre os seus principais objectivos, Saúde em Português visa promover a integração social e comunitária, a saúde, a igualdade de género, o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos; promover, divulgar e aplicar apoio ao desenvolvimento, assistência humanitária e ajuda de emergência; incrementar o voluntariado em Portugal e internacional; bem como promover e desenvolver actividades culturais.
Saúde em Português defende e contribui para uma sociedade justa e igualitária que luta por uma mudança efectiva, no sentido de extinguir a discriminação estrutural que perpetua e legitima relações de poder injustas e desiguais. Em particular, reflecte, participa e promove o respeito e a igualdade entre todos os seres humanos, defendendo o direito ao exercício de uma cidadania plena.
Actualmente Saúde em Português encontra-se a desenvolver, em Coimbra, o Projecto Aguarela – Plano de Iniciativas para o Combate à Discriminação pela Orientação Sexual e Identidade de género que visa promover a sensibilização e informação da sociedade em geral e de públicos-alvo específicos sobre questões relacionadas com a orientação sexual, identidade de género e os direitos da população LGBTI, promovendo a sua integração. Paralelamente está em funcionamento o Gabinete de Apoio Aguarela, que presta apoio psicológico, social e jurídico à população LGBTI e suas famílias [2ª a 6ª feira, Telemóvel: 926 848 028 (das 9h00 às 20h00) – E-mail: gab.aguarela@saudeportugues.org].
Saúde em Português apresenta, neste contexto, uma Exposição de Fotografia, da autoria do fotógrafo Pedro Medeiros, na qual estão expostos um conjunto inédito de retratos de mulheres e homens, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgéneros, Transexuais, que no seu quotidiano diário e associativo lutam pela defesa da sua orientação sexual e pelo direito à Identidade de Género.
Entre as mulheres e homens que dão o rosto por este projecto encontram-se membros das associações ActiBIstas – Coletivo Pela Visibilidade Bissexual; Grupo Transexual Portugal; ILGA Portugal – Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero; não te prives – Grupo de Defesa dos Direitos Sexuais; Opus Gay – Obra Gay Associação; Panteras Rosa – Frente de Combate à LesBiGayTransFobia; PortugalGay.pt; rede ex aequo – Associação de jovens lgbts.
Ser humano
Em 2006, em Portugal, Gisberta Júnior, de 44 anos, brasileira, seropositiva, sem-abrigo e transexual, foi espancada por um grupo de jovens durante três dias e atirada para o poço de um prédio em obras, onde acabou por morrer afogada.
Foi vítima de um crime motivado por discriminação com base na orientação sexual.
Saúde em Português é uma organização de saúde e direitos humanos. Não há direitos maiores ou menores, há direitos.
Por isso, não podemos ignorar a discriminação da diferença, o desrespeito pela identidade, o desprezo da liberdade.
Com a coordenação intrépida de Ana Rita Brito e a arte sublime de Pedro Medeiros, Saúde em Português apresenta a exposição Aguarela, que retrata seres humanos e combate o vilipêndio em direitos humanos.
Hernâni Caniço , Presidente Saúde em Português
Ser pessoa
“No início era doente, depois paneleiro, depois homossexual e agora sou um cidadão.”
António Serzedelo
No nosso dia-a-dia falamos de direitos iguais e de igualdade de oportunidade para as pessoas, mas do falar ao agir estamos muito aquém da realidade.
Durante anos e anos, ao longo da nossa história, houve pessoas que lutaram para ser reconhecidas numa sociedade que cria rótulos, que estigmatiza e que até criminaliza o que vai para além da normatividade.
Embora tenhamos consciência que ser “diferente” não é (ainda) possível, lutamos diariamente para alterar consciências e defender direitos.
Ser-se gay, lésbica, trans ou intersexual não é ser doente.
A exposição Aguarela de Pedro Medeiros retrata pessoas que ao longo dos últimos 60 anos foram condenadas, discriminadas, e que se isolaram e lutaram pela sua identidade.
Queremos com isto que estas pessoas inspirem cada um de vós, no vosso dia-a-dia, para que lutem por uma igualdade plena de direitos e para que possamos dar mais um passo na democracia em Portugal.
Ana Rita Brito , Coordenadora do Projecto Aguarela
Câmara Lúcida
Não aprecio arte de género. E o trabalho que Pedro Medeiros expõe no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra para a exposição “Aguarela” não é arte de género. A arte de género vive da circunstância da exploração de uma certa ideia pré-concebida de estranheza para uma ideia pré-concebida de maioria. Não é seguramente pela exploração da estranheza que são notáveis as fotos de Robert Mapplethorpe.
Neste projecto Pedro soube desviar-se dos clichés recorrentes da representação de minorias – quer elas sejam étnicas, raciais, sexuais, ou sociais. Em todas as imagens domina a busca contínua do fotógrafo na captação da dignidade do objecto – sujeito – retratado. É um olhar cerebral, lúcido, de quem tem a exacta noção da responsabilidade sobre as imagens que tornará públicas, e dos ecos que delas ressoarão. Como Diego Velázquez perante o bufón calabacillas, na velatura cega que desfoca o estrabismo do olhar do retratado, ou na Rendição de Breda, onde vencedores e vencidos são tratados com a mesmíssima dignidade. Não encontro forma superior de exaltação da não exclusão, uma forma que só a arte possibilita e que Velázquez exerceu como poucos.
Eu e o Pedro Medeiros nunca concretizámos uma viagem ao Prado para vermos em conjunto todo o Velásquez. Mas foi sempre sobre Velásquez que conversámos durante a realização deste projecto.
Carlos Antunes