O tamanho relativo das coisas no universo e o efeito de acrescentar mais um zero
“Sim, nada é transmissível a não ser o pensamento, a coroa do nosso trabalho.”
Le Corbusier – Julho de 1965
“Estamos a destruir a parede como o lugar de descanso das (…) pinturas.”
El Lissitzy
A essência metodológica do trabalho de Rodrigo Oliveira é a sinédoque: o todo (o cosmos, a vida material, a cultura de massas, a serialização fordista, a não-objectividade modernista, o funcionalismo, o higienismo, a história da arte, a mercadoria como “fantasmagoria”, a poética como recenseadora do quotidiano premente) aparece condensado na parte (a obra) e é restituído à sua condição de experiência.
Na obra de Rodrigo Oliveira o objecto é entendido como um fluxo para onde convergem as propriedades específicas de cada uma das manifestações da cultura visual que aqui soma o modernismo – em toda a sua amplitude – à imagem e à materialidade não artística, i.e, todo o material sobressalente e disponível para apropriação. Há um deslocamento sensorial, os objectos remetem-nos para a revolução simbólica e pictórica modernista (a visão redentora do campo artístico como superação das convenções e da maior de todas elas: a mimese) e ao mesmo tempo desviam-se para outros processos de existência ambígua dos materiais. “(…) Milhares de vezes eu pensei que a não-objectividade deveria ser elogiada porque graças a ela nós passamos a “ver” massas de objectos novos, de objectos que até podem ser velhos, ordinários mas cujas qualidades extraordinárias permaneciam ocultas, ignoradas.” 1
Estas palavras que Aleksander Rodchenko colocou no seu diário como tributo confessional ao cubo-futurismo parecem ter sido escritas para incluírem também o aqui e agora da obra de Rodrigo Oliveira. Assim, constatamos que as obras aqui presentes são pura conservação de energia pronta para se tornar efeito e causa por esta sucessão, tal como um pedregulho colocado no telhado de uma casa aguarda a sua oportunidade para sair do limbo do dead labour e tornar-se cinético.
1 – RODCHENKO, Aleksander.(Alexander Lavrentiev Ed.), Experiments for the Future – Diaries, Essays, letters, and other writings, Nova Iorque: MoMA, 2005, p.106.