Há Água em Marte


A Água em Marte

Duas pinturas s/ tela reproduzindo capas de livros (Animal Farm de George Orwell e Discurso Sobre o Filho Da Puta, de Alberto Pimenta), uma pintura que amplia para grandes dimensões de uma aguarela do séc. XIX, projecto para um jardim romântico,3 pinturas sobre papel reproduzindo um guindaste e 2 prédios em construção, uma pequena casa onde os azulejos que revestem as paredes contrariando a escala do que poderia ser uma maqueta (um pneu sobre o seu telhado acentua a confusão de escalas) e ainda telas onde vemos representada o rosto de um homem de Neandertal, homens com máscara de pássaro, Flash Gordon,…

Com imagens aparentemente tão díspares onde poderemos encontrar algum sentido de coerência nesta exposição? Faltava referir mais uma obra, a que dá o título a esta exposição. Esta obra não é, ou parece não ser, mais do que um título: HÁ ÁGUA EM MARTE, frase em letras recortadas, pintadas cor de alumínio e colocadas sobre a parede.

E é esta frase que tudo parece contaminar. HÁ ÁGUA EM MARTE parece ser o grande título do qual todas as outras obras aqui expostas serão subtítulos. Ao mesmo tempo, na aparente dispersão das obras apresentadas, estas surgem como sendo uma amostra das possibilidades da representação. Onde poderiam estar outras, mas estão aquelas, fazendo ressoar o seu sentido, como orquestra com todos os instrumentos em autogestão.

Mas em todas estas obras há água em Marte, como se disséssemos que, em toda a arte (da qual estas obras são a embaixada que Valdemar Santos trouxe agora ao CAPC) há água em Marte.

Há Marte em toda a arte porque na arte existe um alcançável inalcançável, lugar de coincidência de realidade e ilusão. Uma realidade que parece ilusão e uma ilusão que não passa de realidade. E precisamos que haja água em Marte tanto quanto precisamos que não o haja de todo. Porque queremos que Marte continue, maravilhosamente a ser outro mundo, a excluir-nos. Ao mesmo tempo que isso não nos chega. Precisamos de quase acreditar na possibilidade de lá podermos viver ou ter lá vivido. E de receber, incredulamente, desde que incredulamente, a notícia de que haverá água em marte.

Ou, melhor, não será a arte, a água que há em Marte?

António Olaio, Coimbra, 9 de Novembro de 2013

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Exposição Há Água em Marte, na Casa das Artes de Miranda do Corvo

 

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Exposição Há Água em Marte, na Casa das Artes de Miranda do Corvo

 

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Exposição Há Água em Marte, na Casa das Artes de Miranda do Corvo