Quente/Frio


MUSEU (projectado desde 2001 e construído pela primeira vez em Novembro de 2015 para a edição inaugural do Anozero — Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra) é uma experiência artística destinada a pôr à prova as nossas ideias pré-concebidas acerca do que é um museu, como funciona e quais os seus objectivos. Fá-lo através da redução da escala de um museu, em termos de arquitetura e de colaboradores, até conseguir que  possa ser compreendido num só olhar; expondo o seu funcionamento ao público; e, por último, apelando à participação directa do público nas suas actividades.

É um edifício rectangular com duas entradas que permitem atravessá-lo na sua largura. De ambos os lados do percurso, duas vitrinas permitem ver duas salas, apenas com acesso pela cobertura. Os objectos a expor nestas salas apenas obedecem a um critério de selecção: através de um convite publicado num jornal local convocam-se os residentes a escolher as peças que gostariam de ver expostas e, através de um pequeno texto, a partilhar as razões para tal escolha.

Os objectos propostos podem ser de qualquer tipo: não têm de ser obras de arte contemporânea, nem sequer precisam de ser obras de arte. A única limitação é a de poderem passar na abertura existente na cobertura, com um metro quadrado.

O MUSEU tem três funcionários com funções definidas: o Director, o Curador e o Conservador. Ao Director compete escrever o anúncio-convite, receber as propostas, avaliá-las e seleccionar a final. Também a si compete o tempo de exibição e a frequência de novas exposições. O Curador prepara os objectos escolhidos para serem expostos nas duas vitrinas, assim como os textos que os acompanham. Ao Conservador reserva-se o acesso às vitrinas. Será ele o responsável pelo correcto acondicionamento das peças, assim como pela cenografia expositiva dos objectos, segundo o guião dado pelo Curador.

MUSEU é um museu experimental e uma obra de arte por si só. Concebido e projectado por Francisco Tropa em 2001, nunca tinha sido construído até à edição inaugural do Anozero — Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra. Esta é a sua primeira exposição. E é agora, quinze anos depois de ter sido projectado, que finalmente o Museu se cumpre.

 


*MUSEU, um equipamento projectado desde 2001 e construído pela primeira vez em Novembro de 2015 para a edição inaugural do Anozero — Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, uma organização do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, da Câmara Municipal de Coimbra e da Universidade de Coimbra.
O equipamento  MUSEU situa-se na Praça Cortes de Coimbra, junto à ponte de Stª Clara.

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Quente/Frio é o par expositivo que elegemos para a inauguração do ciclo de exposições da obra MUSEU de Francisco Tropa, uma escultura equipamento, com um Diretor, um Curador e um Conservador, de acordo com o programa de funcionamento determinado pelo artista.

Quente

Em Quente, revelamos por antecipação o tema da edição de 2017, do Anozero — Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra. Curar e Reparar é a proposta de Delfim Sardo, curador geral dessa edição e da qual apresentamos um excerto do texto curatorial:

“Para 2017, num mundo que reclama sistematicamente ser sarado das feridas que permanentemente abre, a possibilidade de pensar questões que se dirigem directamente à máquina avariada do mundo, como à fragilidade do corpo, à incerteza da economia, à necessidade de permanente compensação, surge com uma urgência quase até agora inaudita.

Reparar é uma palavra de muitas significações: tanto quer dizer acautelar como compensar, arranjar como ver. Simbolicamente possui uma conotação jurídica, portanto social; e simultaneamente uma vertente pessoal, como restauro; ou mesmo urbana, social e colectivamente activa.

É deste mundo, doente, como disse Tony Judt, que é necessário tratar. Curar.

E a arte não é, certamente, o melhor processo de cura e reparação, porque se situa no campo da ficção, do projecto de reparação e cura. No entanto, numa altura na qual os processos artísticos parecem viver tão fascinados com a nostalgia de uma radicalidade perdida e que, portanto, precisa de ser performatizada recorrente e repetitivamente, talvez encenar a cura, expor a reparação, a sutura, a costura que une, corresponda a uma necessidade do nosso tempo.”

Adicionalmente a Bienal promoverá um ciclo de conferências com curadoria conjunta de Delfim Sardo e João Maria André, que procurará reflectir sobre as várias instâncias da cura e do cuidado, da hospitalidade e da reparação, cruzando saberes oriundos da teoria da arte e da curadoria, da filosofia e da psicanálise, da história e da arquitectura.

Foi proposto aos dois curadores e ao entrevistador, Nuno Grande, que escolhessem um objeto que sintetizasse o tema da Bienal.

Quente, posiciona-nos do lado da ação regeneradora que o mundo reclama.

Frio

Frio é uma exposição que confronta o público com os números das áreas ardidas em território nacional, entre 1 de Janeiro a 30 de Setembro de 2016.

Nos Relatórios provisórios de incêndios florestais do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) podemos ler que:

“A base de dados nacional de incêndios florestais regista, no período compreendido entre o dia 1 de janeiro e o dia 30 de setembro, um total de 12489 ocorrências (2461 incêndios florestais e 10028 fogachos) que resultaram em 150364 hectares de área ardida, entre povoamentos (82595ha) e matos (67769ha).

Comparando os valores do ano de 2016 com o histórico dos últimos 10 anos destaca-se que se registaram menos 24% de ocorrências relativamente à média verificada no decénio 2006-2015 e que ardeu 112%  mais área do que a respetiva média nesse período. O ano de 2016 apresenta, desde 2006 (até ao dia 30 de setembro), o quarto valor mais baixo em número de ocorrências e o valor mais elevado de área ardida.

Até 30 de setembro de 2016 há registo de 816 reacendimentos, menos 486 do que a média do período 2006-2015”, o que equivale a dizer que no período em apreciação ardeu o equivalente a aproximadamente 150000 campos de futebol, uma medida informal, mas facilmente apreensível e que dá bem a dimensão do problema.

Frio posiciona-se assim do lado da estupefação e reclama uma ação urgente.