1.000.053º Aniversário da Arte
Aniversário da arte
A partir de uma ideia de Robert Filliou, em 17 de Janeiro de 1974, Ernesto de Sousa organizou com o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, uma festa comemorativa do 1.000.011º Aniversário da Arte. (…)
Em 1974, colaboraram no Aniversário da Arte, entre outros, João Dixo, Armando Azevedo, Albuquerque Mendes, Miranda, Teresa Loff, Alberto Carneiro e Túlia Saldanha.
Programação Aniversário da Arte
– Festa
Tone Music School apresenta João Freitas (Guitarra), Hugo Ferreira (Baixo) e Bruno Correia (Bateria) // Concerto
Música com Mariana Roque // Concerto
Sábado 16 às 00h00, no Círculo Sede
– À conversa com os Artistas
Pedro Cabrita Reis // Conversa
Domingo 17 às 15h00, na Sala da Cidade
Este é o momento em que o público pode conversar com os artistas sobre a sua obra. Escutar, fazer perguntas, aceder aos processos, ou a parte deles, e perceber melhor as visões do mundo de cada criador.
– “V, ou finalmente a casa amarela”
Gonçalo C. Ferreira // Performance
Domingo 17 às 17h00, no Círculo Sede
Esta intervenção é o início de um processo a que chamo “V, ou finalmente a casa amarela”. Começo com a construção de uma ficção sobre uma comunidade artística. Ficção que se propõe como repertório, que com o tempo se transforma numa casa (ainda que imaterial). Essa casa é algo que se vai construindo através de memórias, reconstruções e estudos daquilo que já existiu, daquilo que poderia ter existido e daquilo que poderá existir. Uma casa que atravessa diferentes tempos, lugares e pessoas, procurando eu através desse processo um “lugar” a que pertencer. Esta casa como uma celebração desses cruzamentos, como inauguração/vernissage/festa a propósito de um coletivo imaginário, como uma caixa com um bolo que alguém enviou a propósito do aniversário da arte, como um ritual, como uma rede virtual contínua de pessoas que historiografam referências. Tornar presente um arquivo de artistas e amigos, como Lourdes Castro, Dinis Machado ou Ernesto de Sousa.
Carta-Convite
UMA FESTA PARA CELEBRAR O 1.000.011° ANIVERSÁRIO DA ARTE
Queridos Amigos
Em 1963 um amigo nosso, Robert Filliou, ao escrever um poema intitulado “Histórias Segredadas da Arte”, teve a intuição de que tudo tinha começado em 17 de Janeiro há um milhão de anos. Como a existência do Homem sobre a Terra está verificada precisamente há cerca de um milhão de anos, o arbitrário daquela data torna-se secundário, e é pacífico proclamar:HÁ UM MILHÃO E 11 ANOS, ARTE E VIDA HUMANA EXISTIAM E CONFUNDIAM-SE… POR QUE NÃO CELEBRAR ESTA DATA?
… numa FESTA, sem arte (convencional) mas que seja ela própria uma verdadeira afirmação de identidade possível e necessária entre a Arte e a Vida? Para isso NÓS vamos reunir-nos no C.A.P., em Coimbra, com a ideia maior de um convívio simples, gratificante e generoso. ESTAR JUNTOS alegremente e amigavelmente – e saber que isso mesmo se verificará em mais alguns pontos do mundo, num espírito comum. Já o ano passado, em Aix-la-Chapelle se celebrou esta festa. Foi um êxito: houve largadas de balões, música, cerveja, centenas de velas acesas e bolo de aniversário num salão do séc. XVIII cedido pelo Museu local. Este ano repetir-se-á na mesma cidade, em Berlim (onde estará Robert Filliou), em Coimbra, porventura no Canadá e noutros sítios. Enviaremos a uns e aos outros as nossas congratulações e lembranças, a pretexto da Arte e para que seja possível que ARTE e VIDA SE CONFUNDAM em vez de se divorciarem: “A ARTE DEVE VOLTAR AO POVO, AO QUAL ELA PERTENCE”.
A qualquer hora que te convenha VEM TER CONNOSCO. E SE TE FOR POSSÍVEL TRAZ QUALQUER COISA: uma ideia fecunda para um divertimento bom qualquer; um bolo ou muitos bolos; uma garrafa de belo vinho tinto (ou outro, e não te esqueças dos copos, mesmo de papel); velas para fazermos iluminações à noite (e mandarmos uma vela simbólica aos nossos amigos de longe); fitas, panos ou papel para ornamentações, etc, etc. MAS SOBRETUDO VEM TU PRÓPRIO, PARA UM GRANDE ABRAÇO; UM GRANDE APERTO DE MÃO COLECTIVO. Não vais por isto esquecer os teus problemas, e os dos outros que te preocupam, vais talvez é ficar mais confiante para os enfrentar depois. Na melhor das hipóteses. Seja como for: um dia de alegria, será pedir muito? Julgamos que não. E por isso vamos terminar com as palavras do nosso amigo, o “petit Robert”:
POR UM DIA AO MENOS; DEMOS LUGAR À ALEGRIA; AOS DIVERTIMENTOS… TAL COMO ACONTECE NO CARNAVAL, DEIXEMOS CORRER O FIO! TU E A TUA FAMÍLIA; OS TEUS AMIGOS; O TEU “PÚBLICO”, FESTEJAI SE VOS APETECER, E TANTO QUANTO VOS APETECER: PROPAGAI A NOTÍCIA, A ESPERANÇA. CONVIDAI TODAS E TODOS, E ESPECIAMENTE TODOS OS HOMENS E MULHERES QUE MANEJAM AS ALAVANCAS MAIS OBSCURAS DA GIGANTESCA INDÚSTRIA ARTÍSTICA: DOMÉSTICAS, CONDUTORES, GUARDAS, CONTÍNUOS, SECRETÁRIAS, DACTILÓGRAFAS, GRÁFICOS – E, BEM ENTENDIDO, OS “IRMÃOS E AS IRMÃS INIMIGAS” DO MUNDO ARTÍSTICO: ARTISTAS, “MARCHANDS”, COLECCIONADORES, CRÍTICOS, DIRECTORES DE MUSEU E GALERIAS… POR UM DIA, AO MENOS, RECONCILIADOS… VAMOS CELEBRAR?
Ernesto de Sousa, 1974 in catálogo da exposição Ernesto de Sousa, Revolution My Body, Fundação Calouste Gulbenkian, CAM-JAP, Junho 1998, www.ernesto de sousa.com