Casa Posse Lar - parte 2


55 anos do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra | A Colecção em Diálogo

CASA POSSE LAR é uma exposição que cruza obras da colecção privada dos curadores na sua condição de arquitectos-fazedores de casas, habitantes do concelho de Miranda do Corvo e, simultaneamente, directores do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, com obras da colecção do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra. É um conjunto de obras que tem em comum a preocupação de reflectir sobre as três palavras que dão o título a esta exposição CASA POSSE LAR.

Uma casa só se transforma verdadeiramente em lar quando dela tomamos posse, quando nos passa a pertencer no plano físico e emocional, quando amplifica o espaço da nossa intimidade.

Nesta extensão da exposição, o Pavilhão de Jardim do Atelier do Corvo, mantêm-se em exposição tranformando-se no lugar de exercício do serviço educativo, assumindo o seu carácter de disciplinar de obra de arquitectura, habitável e por essa via, transmutável.

 

Atelier do Corvo | Pavilhão de Jardim, 2013 | Tijolo maciço de face à vista, uma cadeira de madeira e lâmpada incandescente | 274 x 274 x 250 cm | Instalação na Casa das Artes de Miranda do Corvo

Atelier do Corvo | Pavilhão de Jardim, 2013 | Tijolo maciço de face à vista, uma cadeira de madeira e lâmpada incandescente | 274 x 274 x 250 cm | Instalação na Casa das Artes de Miranda do Corvo

My home is a logo, a série de desenhos, um vídeo e uma cadeira transformada, de António Olaio, bem como o vídeo What makes a home a house, reflete sobre a condição identitária do lar, deste como elemento construído, apropriação da casa, ou marca.

My mother is a fish, 1993, de José Maças de Carvalho, refere-se a obra “as I lay dying”, the William Faulkner, onde o pequeno Vardaman, assiste sem compreender à deposição do corpo da mãe num caixão, ignorando o sentido da morte. Na viagem de regresso à sua terra de origem o caixão cai na estrada e enche-se de água, fundindo-se a imagem da criação (o peixe era o corpo de Cristo, para os primeiros cristãos) e a caixa, última morada.

Alice, Camila e Clara faz parte de uma série de seis telas, cinco realizadas a partir de fotografias de guerra que se fazem acompanhar de uma legenda–resumo que contextualiza os acontecimentos, os conflitos bélicos e também a fotografia. A sexta pintura – talvez a possa considerar como um hors–série – destaca-se quer pela sua dimensão de grande formato e por ser um autoretrato de mãe-artista e filhas em tamanho natural, deitadas num sofá, a olhar o sofrimento dos outros, tranquilas, em tons de dourado e carmim, cruzadas com as cruéis imagens de guerra e morte, não por antagonismo mas pela continuidade dessas imagens em nós.

S/Título, de Valdemar Santos é um mapeamento de construções mais ou menos clandestinas que respondem a uma necessidade espacial não definida, apenas intuída pelo artista. Casas para alguma coisa, foi, aliás uma possibilidade nunca concretizada de título para esta obra.

 

Valdemar Santos | S/ título, 2014 | Conjunto de 180 C-prints de 10x13,5 cm intervencionadas | Dimensão variável | Colecção do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra | Instalação na Casa das Artes de Miranda do Corvo

Valdemar Santos | S/ título, 2014 | Conjunto de 180 C-prints de 10×13,5 cm intervencionadas | Dimensão variável | Colecção do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra | Instalação na Casa das Artes de Miranda do Corvo

Que casa (das artes) é esta?

Um edifício forte do ponto de vista arquitectónico, que reforça o seu carácter de equipamento de excepção, que soube resistir ao gosto fácil do falsamente regionalista, que marca um território, clarificando o limite entre o urbano e o rural.

Esta casa será tanto maior quanto mais inclusiva, quanto mais a sentirmos como propriedade comum, como porta para o conhecimento que só a arte possibilita. Não deverá haver por isto nenhuma ilusão, o acesso aos bens culturais exige do receptor um esforço de progressiva curiosidade, de disponibilidade para aprender.

 

Carlos Antunes e Désirée Pedro