Jogo do Sério #5




Como aprendemos na infância, no jogo do sério não podemos sorrir, pestanejar ou sequer desviar o olhar. Tudo isto é motivo para a penalização fatal: a derrota. Quando dois corpos se encaram no Jogo do Sério, é por demais evidente a tensão que se cria entre ambos. Não há lugar para cedências.

Neste projeto curatorial, propôs-se à comunidade artística, e não só, a sugestão de um ou mais objetos que pudessem ser parceiros de jogo da obra exposta.

Para este quinto momento, de 26 de outubro a 2 de fevereiro, procurou-se um parceiro para a obra Container #8 (2018), de Pedro Pires.

Depois da deliberação do júri, o quinto Jogo do Sério conta com um objeto proposto pela dupla Rafael Vieira + Liliana Marante [Tipos de Coimbra], em resposta à já anunciada obra. A relação entre Container #8 e Festa Feliz pareceu, ao júri, a mais apropriada tendo em conta o pressuposto curatorial, não obstante a qualidade das diversas propostas enviadas.

Joguemos ao Jogo do Sério. Um corpo em frente a outro. Devem olhar-se fixamente.
Quem rir, desviar o olhar ou pestanejar perde.

Estar imóvel, mas, no entanto, não estar parado: continua a jogar-se à medida da letargia.
Contribui-se para uma simetria de intenções, quebrada pela assimetria à superfície.

Daniel Madeira



Pedro Pires usa diferentes suportes, técnicas e objetos do dia a dia que são fortemente utilitários e produzidos industrialmente. Desenvolve estratégias de comunicação, sendo a figura humana um elemento constante na sua obra. Trabalha maioritariamente em escultura e desenho e na interseção destes suportes, existindo uma procura de estratégias de ambivalência, com abordagens figurativas e conceptuais.

A sua pesquisa flutua entre três assuntos principais: um sentimento de identidade deslocada; migração; e direitos humanos. As assimetrias sociais, políticas e económicas da sua posição nos territórios de Angola e Portugal direcionam as suas reflexões e questionam o sentimento de identidade e pertença. O presente é questionado para refletir no futuro.

Das exposições e projetos em que participou destacam-se: Sculpture in the City, Londres (Reino Unido); Fondation Montresso, Marraquexe (Marrocos); Bienal de Cartasia, Lucca (Itália); Fondation Blachere, Apt (França); Bienal Biso, Burkina Faso; Museu de História Natural de Angola, Luanda (Angola); Museu de Belas Artes de Montreal, Montreal (Canadá); Lagos Biennial, Lagos (Nigéria); Cape Town Art Fair, Cidade do Cabo, e Joburg Art Fair, Joanesburgo (África do Sul); Expo Chicago, Chicago (EUA); Festival Política, Lisboa, Braga e Évora (Portugal); Delfina Foundation, Londres (Reino Unido); Hangar, Lisboa (Portugal).


Rafael Vieira, Coimbra, 1979. Jornalista e arquiteto, mestre em Reabilitação Urbana e pós-graduando em Jornalismo de Investigação Colaborativo na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Gere o repositório online CoimbraStreetArt e é ativista nos grupos cívicos Eu Também Coimbra e Coimbr’a Pedal. É um dos criadores, recoletor e facilitador do projecto [TdC].

Liliana Marante, Águeda, 1985. Psicóloga e terapeuta massagista, mestre em Psicologia Sistémica e pós-graduanda em Dança e Movimento em Psicoterapia na FPCE da Universidade de Coimbra. É ativista do coletivo Coimbr’a Pedal. É a outra criadora do projecto [TdC].

Apresentação do projeto Tipos de Coimbra [TdC]
Tipos de Coimbra [TdC] é um projeto sem fins lucrativos de laivos museológicos que pretende resgatar os letreiros e reclames publicitários ainda existentes na face da cidade de Coimbra e que estejam em risco de perda ou destruição, subtraindo-os das fachadas e preservando-os em acervo dinâmico. Vive na interseção de memória, história, arte e tecnologia, enquanto testemunho temporal de um genius loci e atemporal para a ressignificação de um sentido de pertença. Enquanto projeto permanentemente em construção, que cresce a cada resgate, o objetivo é também restaurar e expor os elementos reclamados das ruas. O acervo conta agora com 29 peças, apresentando elementos em vidro com néon, caixas de luz em acrílico, chapas metálicas e outros artefactos de diversas décadas, que testemunham diferentes épocas da imagem gráfica da cidade de Coimbra, enquanto pretendem fixar o elemento gráfico, tecnológico e topográfico que já preencheu a paisagem urbana. É pretensão última evoluir para uma estrutura museológica, também com o objetivo de promover exposições e publicações, de forma que se dê a conhecer ao público as tecnologias e topografia destes letreiros e reclames, fixando também as histórias das marcas, empresas e pessoas que residem nestes elementos. Além do acervo atual, decorrem igualmente negociações de forma a viabilizar o resgate de cerca de uma dezena de letreiros em Coimbra e em localidades vizinhas.