MONO
A propósito do Grupo Cores/Grupo de Intervenção do CAPC 1976/78
O Grupo de Intervenção do CAPC é de facto dos mais fortes protagonistas da história heróica do CAPC dos 70’s. A sua atitude performativa leva-o a ser mais conhecido por Grupo Cores, sobretudo a partir de acções como a que realizaram na Alternativa Zero, organizada em Lisboa por Ernesto de Sousa, em 1977. Aí cada um envergava uma vestimenta monocromática. “O todo e a parte; a parte e o todo”, na expansão do pictórico para a acção performativa. Defendiam cada um a sua cor como quem defende uma ideologia, e, radicalmente, como se fosse a única.
Partindo da evocação do Grupo Cores, o CAPC convidou agora mais de 60 artistas a apresentar novas obras em torno da ideia de monocromia.
Na relação entre a plasticidade e o conceito, uma cor, a partir do momento em que é nomeada reúne em si estas duas dimensões. Uma cor enquanto conceito é também plasticidade. E, na relação entre arte e pensamento, encantamo-nos com a própria plasticidade do pensamento.
Da ideia de monocromia em absoluta polissemia surge uma exposição onde os pequenos formatos produzem densidade em multiplicidade e contaminação.
Negamos aqui a cautelosa rarefacção que muitas vezes se disfarça de bom gosto, não propriamente pelo excesso mas pelo muito. O muito que se multiplicará em muito mais num CAPC resistente e festivo, recusando veementemente render-se.
“Queridos companheiros Victor Diniz, António Barros, Túlia Saldanha, Armando Azevedo, Rui Vilar, Mário Silva e restantes antigos presidentes do CAPC:
Regressamos à história como um bom marinheiro regressa ao seu porto. E esta segunda exposição da nova direcção do CAPC, após a brevíssima NA SEDE DO CAPC – que hoje encerra – é novamente um reencontro com a nossa própria história. Engana-se quem entender estas duas exposições em torno do passado CAPC como sinais de resignação e de auto contentamento perante o Passado. O CAPC sempre se posicionou como um filho rebelde e bom perante a sua própria história. Porque a melhor maneira de a celebrar é “seguir em frente programando para o lado”.
NA SEDE DO CAPC foi essencialmente um manifesto, uma reacção firme a um obituário que se tinha enganado.
MONO – a propósito do grupo cores, é ja isso – uma resposta criativa do tempo ao tempo, e a primeira exposição de um ciclo que hoje se inicia.
Para a programação de 2010-2011, propomos-nos programar em torno de ciclos temáticos. Procurámos que os temas fossem suficientemente abertos, quer conceptualmente, quer semanticamente, de forma a poder absorver contribuições de várias áreas disciplinares. Embora centrada nas artes plásticas, procura-se assim envolver a prática de reflexão disciplinar universitária na actividade de programação do CAPC, convocando saberes e contributos de múltiplas áreas disciplinares.
Elegemos como tema central o tema das CORES, pelo que estas têm de possibilidade de apropriação semântica a uma infinitude de disciplinas e leituras.
Para o presente ano programaremos em torno do Negro. Num universo em absoluto desatino, propomos o Negro como possibilidade redentora, com contributos directos das áreas da literatura, ciência, cinema, teatro, inscritos nas áreas plásticas.
Não estou certo, companheiros, se seria isto que fariam hoje no meu lugar. Mas isso é pouco relevante. Por mim continuarei a levar a nossa barca como melhor souber a partir do vosso legado.
O que já não é pouco.
Saudações,
Carlos Antunes, 16 de Outubro de 2010″